I
- Onde vais? Assim toda arranjada… -perguntou-lhe
o Miguel.
- Já te tinha dito… vou aquele bar novo, nas
docas, aquele cheio de homens de negócios desesperados por encontrar uma
mulher. – Respondeu-lhe a Filipa.
- Ah, pois estou a ver. Vais com a Maria e o Tomás
não é? Eu acho que não deves ir. Aquilo não é sítio para ti. Vais odiar…. – Bolas
ela estava mesmo um arrombo. Aqueles saltos altos ficavam-lhe a matar. Quando
teve consciência de si próprio percebeu que queria evitar a todo o custo que
ela fosse a esse tal bar nas docas. Não suportava a ideia de a ver rodeada de
homens a babar-se por ela.
- Ai Miguel que querido, sei lá…já alguma vez lá
foste? Não pois não? Então cala a boca e deixa-me ir sossegada.
Ele soltou uma sonora gargalhada. – Vai, tu é que
sabes. Mas depois não digas que não te avisei. Sim até porque o bar é mesmo do
teu tipo… cheio de snobs, de fatinho e gravata. Todos tiozorros. Tu odeias
isso, não percebo porque raio te queres ir enfiar lá.
- Também já te explique isso. Eu preciso de
arranjar um homem, não percebes? E tenho certeza que é lá que vou encontrar.
Quero um homem mais velho, com uma carreira de sucesso, que me leve a jantar
fora, a restaurantes chiques, que me ofereça prendas caras, que me leve a andar
no seu super carro. Bolas… Acho que mereço.
- Sim, logo
tu que és uma super apreciadora desse tipo de coisas. Restaurantes chiques
Filipa? Menos, sim. Não sei que raio anda a Maria a meter-te na cabeça juro que
não sei.
- Miguel, eu não posso passar o resto dos meus
dias, enfiada em casa contigo, dormir na mesma cama que tu e ser a tua melhor
amiga. A amiga que não sai de casa, que não se interessa por nada. Eu preciso
de um homem bolas. – Estava a sentir-se já à beira das lagrimas.
- Mas não é lá que o vais encontrar, isso te
garanto, assim que puseres os pés naquele sítio vais sentir-te deslocada. Mas
vai, por amor de deus, vai enfiar-te nesse barzinho de gente chique! – Mas o
que é que lhe estava a dar? Porque motivo estava a tratar a Filipa assim? Ela não
merecia que ele lhe dissesse aquelas coisas. Era mais forte do que ele. Não
dava mesmo para evitar. Não queria que ela fosse sair, muito menos assim
vestida e ainda menos para aquele bar. Sabia que estava a ser egoísta.
A amizade deles era diferente. Ele morava
praticamente na casa dela. Dormiam juntos mas nunca nada tinha acontecido entre
os dois. Eram apenas os melhores amigos e tinha uma intimidade diferente do
habitual.
Ele tinha, de vez em quando, as suas aventuras.
Mas a ela nunca lhe tinha conhecido nenhum homem, pelo menos depois de se terem
conhecido e ficado amigos.
Sabia que isso era inevitável, mas tomava-a como
sua.
Nessa noite tinha-a tratado mal demais. Sabia que
a tinha magoado muito e não precisava de ter ouvido o telefonema dela para
saber:
- Maria, sou eu. Desculpa estar a desmarcar tão e
cima da hora, mas perdi a vontade de ir sair.
- O quê? Mas estavas tão animada. O que aconteceu?
- Nada de especial. Foi o Miguel que me fez sentir
um bocado mal comigo própria. Acho que não me vou sentir lá muito bem nesse tal
bar.
- Disparate. Além disso o amigo do Tomás está
ansioso por te conhecer. Vá lá, não sejas desmancha-prazeres. Diz ao Miguel
para vir também. Apanho-vos dentro de meia hora.
- Maria espera…- mas ela já tinha desligado. –
Bolas…- Ela tinha razão. Não ia deixar que aquilo que o Miguel lhe tinha dito a
deitasse abaixo.
- Miguel, veste-te. Vens connosco. Tens meia hora.
– Surpreendeu-se a vê-lo levantar-se do sofá para se ir vestir. Achou que ele
ia protestar. Mas não. Meia hora depois, estavam dentro do carro dele, mesmo
atrás do carro da Maria, rumo às docas.
II
O bar tinha um ambiente descontraído. Ao contrário
do que imaginou. Era todo envidraçado, com uma ótima esplanada virada para o
rio. O sítio ideal para beber uns copos enquanto se põe a conversa em dia.
O amigo do Tomás, aquele que ansiava por conhecer
a Filipa, já lá estava. Juntaram-se a ele numa mesa na explanada. Estava em
noite fantástica.
Foram todos apresentados. O amigo chamava-se
Afonso. Trabalhava com o Tomás num escritório de advogados. E assim que viu a
filipa, não conseguiu mais tirar os olhos dela.
- E tu Filipa, onde trabalhas? – Perguntou-lhe o
Afonso.
- Eu e o Miguel trabalhamos numa agência de
marketing. O Miguel chefia uma das equipas. Eu trabalho no departamento de
relações públicas.
- Gostas do teu trabalho? – Sentia-se cada vez
mais interessado, ela tinha um brilho diferente no olhar, uma coisa que nunca
tinha visto.
- Oh ela adora, passam o dia a organizar festas para
o jet 7. – Respondeu-lhe o Miguel não dando sequer espaço à Filipa para se
manifestar. Apeteceu-lhe repreende-lo mas decidiu ignorar.
Reparando que o Miguel estava um pouco deslocado
ali e de maneira a que a amiga tivesse oportunidade de conhecer melhor o Afonso,
a Maria decidiu intervir.
- Miguel, sê um querido e anda buscar bebidas
comigo. Ahhhhh mas se calhar não conseguimos trazer tudo sozinhos. Amor anda
também. – Fez de tudo ao seu alcance para se demorar para dar tempo à Filipa e
ao Afonso, mas eventualmente acabou por ter que voltar para a mesa.
Quando chegaram estavam os dois a conversar
animadamente e a rir.
Sentaram-se, distribuíram as bebidas e a noite
continuou.
- Filipa, acho-te incrível. Talvez pudéssemos
encontrar-nos outro dia para beber um café. Que achas? - Perguntou-lhe o Afonso,
quando já estavam a pontos de ir todos embora para casa.
- Pois ela não vai poder. Já tem outros compromissos.
Mas não leves a mal meu. – respondeu-lhe o Miguel.
A Filipa ficou totalmente aturdida com aquela
resposta. Como é que ele se atrevia a meter-se assim na vida dela?
- Obrigada a todos por esta noite, foi muito
agradável. Mas estou extremamente cansada. Vou voltar para casa. – E não dando
sequer oportunidade a ninguém para dizer o que quer que fosse, levantou-se da
mesa e dirigiu-se à praça de táxis mais próxima.
Não percebeu até lhe agarrarem no braço, mas o
Miguel tinha ido a correr atrás dela.
- Então? Vais-te embora sem mim?
- Vou voltar para casa sozinha. – E libertando-se
do braço dele seguiu.
- Era o que faltava, não sejas absurda vens comigo
e acabou a conversa.
- Obrigada mas eu prefiro ir sozinha.
- Filipa, entra no carro, se fazes favor.
Não tinha vontade mas obedeceu. Sabia que não
valia a pena desafiá-lo, só iria fazê-la ficar ainda mais chateada com ele.
III
Durante a viagem ate casa não trocaram uma única palavra,
ele ainda tentou entabular conversa, mas não lhe apetecia minimamente falar com
ele.
Estava extremamente chateada, ao ponto de não
conseguir perceber o quanto estava magoada com ele.
Em vez de falar, limitou-se a olhar para fora do
vidro enquanto as lagrimas lhe escorriam pelas faces.
Entraram em casa, sempre sem falar, ela dirigiu-se
à casa de banho e depois ao quarto, despiu-se, vestiu o pijama e enfiou-se na
cama.
Alguns minutos depois ele deitou-se também. Chegou
perto dela mas ela afastou-o.
- O que é que se passa não falaste a viagem inteira.
Estás a chorar porquê?
- Como é que é possível não teres noção? Explica-me,
explica-me por favor...Tens prazer em estragar-me todas as possíveis relações
que eu possa vir a ter é?
- Filipa, estás a ser injusta.
- Estou? Então explica-me o que aconteceu esta
noite?
- Ele não é homem para ti.
-Enganas-te ele era precisamente o homem para mim.
Porque é que estás a ser tão egoísta? Bolas Miguel. Eu nunca te fiz nada disto.
Não te faço uma cena destas de cada vez que vais sair com alguém. Qual é o teu
problema?
- Eu não quero que saias com outros homens. – O
coração dela parou por segundos ao ouvi-lo dizer aquilo.
-O quê? Deves estar a brincar comigo, só pode.
Tens a noção do que me estas a pedir? Estas a pedir-me para abdicar de ter uma
vida. Tens noção há quanto tempo é que eu não estou com alguém?
- Eu sei que estou a ser egoísta. Mas o que é que
queres? É mais forte do que eu…o que é que eu vou fazer sem ti? É inevitável que
isto acabe se encontrares alguém.
-Miguel eu vou continuar a ser a tua melhor amiga.
- Mas já não vou poder dormir contigo, e já não
consigo não dormir contigo. Não percebes?
- Não, não percebo. Tu tens outras pessoas. Porque
é que eu não posso ter também? – fez uma pausa - Miguel, ok, se eu abdicar de
estar com outras pessoas para ficar contigo, assim como até aqui, o que é que achas
que me vai acontecer quando tu decidires ir embora?
- Mas porque é que eu havia de ir embora?
- Ora mas é óbvio…quando encontrares alguém de
quem gostes realmente hás-de querer ficar com ela.
- Mas eu Já encontrei… - Ela sentiu formar-se um
nó na garganta…estavam os dois ali deitados, de lado, um a encarrar o outro, os
corpos muito perto…
- Desculpa? - Disse-lhe ela.
- Sim eu já encontrei a pessoa com quero ficar para
o resto da minha vida.
- Ahahahaha Miguel, não sejas parvo. Encontras-te
agora… Se assim fosse não estavas aqui comigo.
- Não estas a perceber pois não?
- Eu nã…- antes que ela continuasse beijou-a, um
beijo intenso, profundo, apaixonado, uma coisa pela qual ambos esperaram muito
tempo, mesmo que não o admitissem.
- Vais dizer-me que não sentes o mesmo? Vais
dizer-me que não sabes que desde que durmo nesta cama contigo não tive mais ninguém?
Vais dizer-me que não estremeces quando te abraço à noite…que não sentes o
coração bater mais forte, que não sentes o meu próprio coração bater descompassado.
Beijaram-se novamente, um beijo demorado, doce,
num encontro de lábios que se desejaram durante anos, mas que por algum motivo
nunca souberam encontra o caminho para aquele fim.
Ele beijou-lhe o pescoço então, acariciando-lhe o
corpo com as mãos, sentiu-a estremecer.
Desejou durante anos aquele momento.
- Mas eu não posso levar-te a restaurantes
chiques, nem comprar-te prendas caras, ou levar-te a passear no meu super
carro…
- Isso não me importa…- respondeu-lhe ela com um
sorriso.
- Não?
- Não…eu quero-te a ti. – Viu-lhe um novo brilho
no olhar, algo que nunca tinha visto. Ele sorria, não desviava os olhos dela.
Ela quis dizer que também sentia, que tudo aquilo
que ele tinha dito, ela também sentia, que o desejava loucamente, que por vezes
era uma tortura dormir na mesma cama que ele. Mas não foi preciso, ele sabia.
Continuaram a beijar-se as línguas entrelaçavam-se
em rodopios estonteantes enquanto as mãos de ambos lhes percorriam os corpos.
Ambos desejavam perder-se um no outro, fazer amor,
como provavelmente nunca tinham feito com mais ninguém. Sentir-se profundamente.
Ele despiu-lhe a camisola e beijou-lhe os seios,
redondos e perfeitos, sentiu-os túmidos e enrijecidos pela excitação.
Demorou-se ainda ali. Tinham tempo para se saborear um ao outro.
Ouviu-a gemer baixinho, enquanto a mão percorria a
barriga dela. Beijou-lhe o estomago, as ancas as perna, delicadamente, sentiu o
cheiro doce da sua pele.
Conhecia-o de cor, mas naquele momento tinha um
significado diferente.
Tirou-lhe os calções, afastou-lhe ligeiramente as
pernas, e vislumbrou-lhe os lábios inchados pelo desejo, afastou-os para melhor
a poder estimular e perdeu-se nela. Queria dar-lhe prazer, o prazer que a
privou de ter durante aqueles anos todos. Beijou-a então naquele lugar.
Ouviu-a gritar enquanto as mãos dela se cravavam
nos lençóis e os puxavam. Continuou então a beijá-la e a sugá-la, enfiou um
dedo dentro dela.
Sentiu-a apertada.
Não se lembrava de alguma vez ter sentido tanto
prazer, cada parte que ele tocava inflamava automaticamente, como se ele
deixasse um rasto de fogo à sua passagem.
O seu corpo estremecia de cada vez que o dedo dele
entrava e saia do seu corpo. Não conseguia conter os gemidos.
Ele sentiu-a perto de explodir, e parou, ainda era
cedo.
O sexo dele estava já engorgitado, duro, ele pegou
na mão dela e levou-a até lá.
Senti-lo assim, deixava-a ainda mais excitada, não
conseguia aguentar aquele desejo, mal se conseguia controlar a ela própria.
Acariciou-lhe o sexo, e depois meteu-o na boca. Ele
contorcia-se de prazer, enquanto ela o percorria, enquanto o fazia entrar e
sair.
-Para, para por favor, eu não vou aguentar.
Ela parou, ele passou para cima dela, para poder entrar
dentro dela.
Assim que ele a penetrou, foi acometida por uma
dor aguda. Já não estava com um homem há muito tempo. Percebendo isso mesmo ele
conteve-se. Tinha que fazer um esforço hercúleo para se controlar a si próprio.
Ela sentia os músculos do peito e das costas dele,
rijos como tabuas de toda a tenção que ele fazia por não se descontrolar.
- És tão apertada…
- Desculpa…
- Não peças desculpa….por deus!!! Ahhhhhhhhh –
continuou a tentar entrar dentro dela com o maior cuidado do mundo para não a
magoar.
Ela já não sentia dor, e para o livrar daquela
pressão, percorreu-lhe as costas com as mãos até chegar às nádegas. Empurrou-o
mais para dentro de si.
Ao sentir-se encorajado, não se conseguiu conter
mais e penetrou-a violentamente, até ambos se virem.
Passaram o resto da noite ali, ora a fazer amor,
ora a admirarem-se mutuamente nesta nova fase, após esta descoberta do amor
comum.