O tempo foi correndo, as pessoas foram-se ambientando aquela
nova situação, o próprio chefe já se tornara mais brando, ao perceber que podia
confiar na equipa. Ela já não se sentia tão intimidada como inicialmente e agora,
em determinadas situações chegava a assumir uma posição de desafio.
A relação entre ambos, mesmo assim, era muito tensa. Ela já
tinha notado que ele não reagia da mesma forma à sua presença. Sentia uma espécie
de tensão sempre que se aproximava.
As discussões entre ambos eram agora uma constante, o motivo
era sempre ou quase sempre trabalho. Se pudesse deixava simplesmente de falar
com ele, mas não podia o trabalho obrigava-a.
Tinha de confessar porem que as discussões lhe davam um
certo prazer. Não sabia explicar, mas por um lado gostava, talvez até demais de
discutir com ele.
Ele também gostava das discussões, a raiva transformava-a
numa mulher super atraente, o facto de a ver defender os seus pontos de vista
tão fervorosamente fazia com que a desejasse ainda mais.
Muitas vezes, depois de cada discussão, apeteceu-lhe
possui-la ali mesmo, fazê-la gritar de prazer, para toda a gente ouvir, mas
continha-se. Não ousava sequer levantar-se da cadeira com medo que alguém percebesse
o estado em que ela o deixava.
Esta situação tornava-se a cada dia mais incomportável, e o
medo de deixar transparecer para o resto dos colegas, isso mesmo, perseguia-os.
Mas, a verdade é que não havia grande coisa a fazer, ele tentara transferir-se
primeiro para um outro edifício, depois para um outro piso, mas sempre sem
sucesso.Ela tentava desesperadamente encontrar um outro emprego, mas o mercado
estava impossível, e acabaram ambos por se resignar.
Era o final de mais uma semana de trabalho e como tantas
outras vezes, eram os únicos que ainda não tinham regressado a casa:
- Estou?
- Segunda-feira às 18 horas?
- Compreendo.
- Lá estarei.
E de repente uma mudança, era a oportunidade pela qual tinha
esperado este tempo todo, uma entrevista. E agora? O que fazer? Seria capaz de
lhe contar a verdade, a ele? Era mesmo aquilo que ela queria? Ir embora? Deixar
de o ver? Não podia negar que gostava muito, daquilo…
Dirigiu-se ao gabinete dele:
- Sim Maria entra.
- Dr. Gonçalo, precisava de falar consigo.
- Quando é que vais passar a tratar-me por tu? E sem o Dr. já
agora.
Ignorando-o prosseguiu: - Segunda-feira vou ter uma
entrevista portanto…
- Uma entrevista pra que? – Interrompeu-a ele.
- Para um emprego ora…para que havia de ser?
- Um emprego Maria, um emprego? Deves estar a brincar
comigo.
- Dr. Gonçalo eu…
- Queres ver-te livre de mim, sim já percebi. Não me
suportas, nem nunca suportas-te. Eu sei. Podes dizê-lo.
- É precisamente por quere-lo demais que me quero ir embora –
ohhhhhhh que merda, pensou, tinha disto mesmo aquilo? Só havia uma solução,
envergonhada, virou-se e saiu do gabinete.
Ele levantou-se de imediato e seguiu-a:
- Dra. Maria Fernades, volte imediatamente aqui.
Aquela voz de comando fê-la voltar ao gabinete.
- Sente-se. – Ordenou.
Mas que raio, parecia não ter vontade própria, decidiu então
tomar uma posição de desafio e permaneceu de pé.
Ao ver que ela não lhe obedecia, ele chegou-se mais e com
uma expressão dura disse-lhe:
- É bom que se sente ou eu próprio a vou colocar sobre o meu
colo e garanto-lhe que quando acabar não vai voltar a poder sentar-se durante
pelo menos uma semana.
Dito isto virou-lhe as costas e sentou-se, pelo canto do
olho viu que ela fazia o mesmo.
- Explique-me e muito bem explicadinho o que acabou de
dizer. E apenas aceito a verdade minha cara.
Não podia deixar de reparar com ele a tinha começado a
tratar por Dra. …E por você…parecia zangado, e queria a verdade…Mas a verdade
era muito complexa. Como é que se ia safar daquilo? Era tarde demais, ia ter
que contar tudo.
- Dr. Gonçalo, a verdade é que há qualquer coisa no ar
quando…
- Sim, sim eu também sinto isso. Mas vá direta ao assunto.
Diga-o com todas as letras. Quero ouvi-la dizer.
- Não posso negar que me sinto extremamente atraída por si e
não estou a conseguir aguentar mais esta situação.
- E acha que fugir é a solução?
- Eu não consigo mais, juro que não consigo…estou em casa só
quero estar aqui, estou aqui só quero ir a correr para casa. O que é que eu
faço? Diga-me por favor.
- Bom, em primeiro lugar vai desistir dessa entrevista. E em
segundo lugar vamos sair os dois daqui, e já. – vestiu o casaco, dirigiu-se a
ela, pegou-lhe no braço e arrastou-a consigo até á secretária dela. Agarrou-lhe
na mala e fê-la vestir igualmente o casaco. Enfiou-a num elevador para desceram
até à garagem, abriu-lhe a porta do carro, prendeu-lhe o cinto de segurança,
ele sentou-se no lugar do condutor e seguiram para a sua casa.
Conseguia sentir o nervosismo dela, não só pelo facto de lhe
ter revelado, a ele, mais do que queria, mas também por antever o que estava
prestes a acontecer.
Ele próprio que estava mais do que decidido a acabar com
aquela tortura tinha agora algumas duvidas em relação aquilo!
- Por favor, pare o carro.
- Mas Maria…
- Pare! – gritou.
Ele obedeceu-lhe. Assim que parou, viu-a abrir a porta e
sair. Esperou vê-la correr dali para fora como o diabo da cruz, mas não ficou
parada, como que em choque. Ele saiu calmamente do carro e foi pôr-se à frente
dela.
- Não temos que fazer nada que não queiras.
- Eu sei. – disse ela num sussurro.
- Então o que se passa?
- Nada…é só que isto é uma tremenda de uma confusão. Eu
quero-o muito, a serio que quero. Mas como é que vai ser na segunda-feira? Como
é que vamos conseguir encarar-nos depois de termos dormido juntos?
Ele sorriu, chegou-se mais a ela, passou-lhe uma mão pelos
cabelos e outra pela cintura e chegou-a a ele. Beijou-a suave e delicadamente
na boca.
- Anda, vou levar-te a casa.
Continua amanhã (ou um dia destes)...