Sabia que ia pagar por te ter desafiado daquela forma. Assim que tivesses uma oportunidade.
Só o facto de o saber provocava-me tremores pelo corpo inteiro. O comportamento submisso que me era exigido, simplesmente não se entranhava em mim. O prazer do desafio aliado à adrenalina e à expectativa da dor eminente toldavam-me a mente e levavam-me a agir irracionalmente 99,9% do tempo.
Aquele foi um desses casos. Se agisse racionalmente teria escolhido uma roupa discreta. Se agisse racionalmente teria bebido apenas uma agua. Se agisse racionalmente não me teria insinuado a nenhum dos homens que se cruzou comigo esta noite. Porém, e ao contrario do que esperavas de mim, não agi racionalmente.
Sim, quis provocar. Deixar-te à beira de um ataque de fúria. É que a tua fúria tornou-se na minha forma de prazer mais extrema.
Fizeste-me sinal para te acompanhar até à saída. Os teus olhos negros de raiva permitiram-me perceber exactamente quão punida eu seria esta noite. As palavras de segurança começaram a surgir na minha cabeça como sinais de aviso.
Que eu ignorei, claro.
Queria tanto aquilo.
Entramos no carro, completamente em silencio. Eu de cabeça baixa. Não valia a pena desafiar-te mais ainda.
- Espero que tenhas noção que o teu comportamento esta noite foi vergonhoso. Uma puta de rua teria conseguido comportar-se com mais decência do que tu. - disseste num tom rouco, demasiado calmo. - Não admito que nenhuma mulher minha se comporte da forma que te comportas-te. Querias que todos os homens naquela maldita sala te comessem? Era? Responde quando te faço uma pergunta.
- Não mestre. - o meu tom vacilante transpareceu o nervosismo que se aflorava em mim. Bolas, devia ter-me conseguido controlar. Não adiantava de nada deixar-te tão furioso. Um bocadinho tarde para arrependimentos, não?
Uma das tuas mãos desprendeu-se do volante e agarrou no meu cabelo, o que me fez erguer a cabeça e encarar a estrada.
- Esta noite vais pagar muito caro, muito caro mesmo pelo que acabaste de fazer. Sabes disso não sabes?
- Sim, mestre.
Assim que entramos no quarto, e tal como exigias que fizesse, despi-me. Atei o cabelo numa trança. Ajoelhe-me no chão e de cabeça baixa esperei pacientemente por uma ordem.
Senti o chão do quarto vibrar a cada passada tua, não conseguia ver o que fazias.
- Apetecia-me trancar-te em casa para sempre. Assim tinha a certeza que mais nenhum homem nesta terra te poria os olhos em cima ou te desejaria. - ajoelhaste-te à minha frente e levantaste-me o queixo de modo a que te olhasse nos olhos - Quero que sejas só minha. Percebes isso? - as pupilas ainda dilatadas.
- Sim mestre.
- Merecias que te amarrasse e te deixa-se assim a noite inteira. MAs infelizmente não temos tempo para isso. Portanto vou limitar-me a sentar-te no meu colo e bater-te até não sentir a mão. Quero que contes. Depois vou foder-te e não te vou deixar vir. Compreendes?
- Sim mestre.
Desapertas-te a gravata. Amaraste-me as mãos atrás das costas. Fizeste-me levantar e depois de te sentares à beira da cama, deitaste-me sobre os teus joelhos.
Acariciaste-me pacientemente as nádegas, uma de cada vez. Senti dois dos teus dedos escorregarem dentro de mim. Tiraste-os e levaste-os à boca, o que me fez corar violentamente.
- O teu sabor é tão inebriante... - desferiste o primeiro golpe sem eu esperar.
Percorreu-me o corpo inteiro como uma onda.
- Conta - -Gritaste.
- Um!
- Dois!
- Três!
...
- Trinta e um! Mestre por favor, não aguento mais. - a minha voz não passava de um sussurro toldada pelas lágrimas que me escorriam pela face.
Aquilo só te enfureceu mais. Os golpes seguintes foram ainda mais violentos do que os trinta e um anteriores. Mas eu já não conseguia sentir. Não conseguia sentir nada, mas as lágrimas continuavam a correr. E tu, de tão cego pelo ódio, não conseguiste ver.
Ao centésimo primeiro paraste finalmente. Eu sabia que aquilo ainda não tinha acabado, mas não tinha força para mais. Tinhas exagerado desta vez.
Fizeste-me erguer, mas assim que me largaste deixei-me cair no chão. Exausta pela dor.
Os meus sentidos meio adormecidos não me deixaram ver-te a cara, mas percebi o teu pânico assim que me ergueste no colo. O teu corpo tremia.
Deitaste-me na cama. e desapareces-te
Minutos depois estavas de volta. Colocas-te na mesinha de cabeceira um benuron e um copo de agua. Afastaste-me o cabelo da cara e beijaste-me a testa.
- Toma isto.
Fiz o que me mandas-te. Assim que voltei a deitar-me, senti que me aplicavas algo frio nas nádegas. Um creme.
- Shiuuuuuuuu. Já vai passar. Mas porque raio não usaste as palavras de segurança?
Encolhi-te os ombros.
- Estou pronta se quiseres acabar o que começas-te.
Não contava ver-te um ar de surpresa quando me voltei para ti.
- Não. Acho que ambos concordamos, que esta noite me excedi. Descansa.
Deitaste-te ao meu lado. O toque do teu corpo fez o meu latejar de dor. Mas mesmo assim sabia bem o teu calor.